08/03/2015

A cadeira

A cadeira

Um sacerdote foi chamado pela filha de um homem muito enfermo.
Quando o sacerdote entrou no quarto, encontrou o pobre homem na cama com a cabeça apoiada em um par de almofadas. Havia uma cadeira ao lado da cama, fato que levou o sacerdote a pensar que o homem estava aguardando a sua chegada.

- Suponho que estava me esperando?
- Não. Quem é você?
- Sou um sacerdote que veio orar junto com você. Quando entrei e vi a cadeira vazia, imaginei que você soubesse que eu viria visitá-lo.
- Ah! Sim, a cadeira... Você não se importa de fechar a porta?
O sacerdote fechou e o homem enfermo disse:
- Nunca contei isso a ninguém, mas passei toda a minha vida sem ter aprendido a orar. Quando eu ia à igreja e ouvia a respeito da oração, de como se deve orar aos benefícios que recebemos através dela. Até gostava, mas mesmo assim eu nunca me interessava: Entrava por um ouvido e saia pelo outro. Assim sendo, não faço nem ideia de como orar.
O homem doente fez pequena pausa, como que numa reflexão sobre suas palavras. Logo depois, levantou o olhar para o sacerdote e continuou.
- Há muito tempo abandonei por completo a devoção. Vivi sempre assim e alguns anos atrás, quando conversava com um grande amigo ele me disse: José orar é simplesmente ter uma conversa com Jesus, e isso, eu sugiro que você não deixe de fazer... Você se senta em uma cadeira e coloca outra vazia na sua frente. Em seguida, com muita fé, você imagina que Jesus está sentado nela, bem diante de você. Isto não se trata de insanidade, pois Ele próprio certa vez nos disse: “Eu estarei sempre com vocês.” Portanto você deve falar com Ele e escutá-Lo, da mesma forma como está fazendo comigo agora.
O sacerdote apenas ouvia e o homem acamado continuou.
- E assim eu procedi e me adaptei à ideia. Desde então, tenho conversado com Jesus durante duas horas diárias. Tenho sempre o cuidado para que a minha filha não veja... Pois me internaria em um manicômio imediatamente.
O sacerdote sentiu uma grande emoção ao ouvir aquilo e disse a José que era muito bom o que vinha fazendo e que não deixasse nunca de fazê-lo.
Em seguida orou com ele. Deu-lhe a benção e foi embora.
Dois dias mais tarde, a filha de José comunicou ao sacerdote que seu pai havia falecido.
O sacerdote perguntou:

- Ele foi em paz?
- Sim. Quando eu estava me preparando para sair ele me chamou ao seu quarto, disse que me amava e me deu um suave beijo. Quando regressei das compras, uma hora mais tarde, já o encontrei morto. Porém, há algo de estranho em relação a sua morte, pois aparentemente antes de morrer, chegou perto da cadeira que estava ao lado da cama e recostou sua cabeça nela. Foi assim que eu o encontrei. O que será que isto poderia significar?
O sacerdote, profundamente estremecido, enxugou as lágrimas e lhe respondeu.
- Oxalá que todos pudéssemos partir dessa maneira.


Autor desconhecido

27/02/2015

Tapetinho vermelho

Tapetinho vermelho

    A fé é a certeza de que haveremos de receber o que esperamos, e a prova daquilo que não podemos ver.”

  Uma pobre mulher morava em uma humilde casinha com a sua neta muito doente.
  Como não tinha dinheiro sequer para levá-la a um médico, e vendo que, apesar de seus muitos cuidados e remédios com ervas, a pobre criança piorava a cada dia, resolveu iniciar a caminhada de duas horas até à cidade próxima em busca de ajuda. Ao chegar ao único hospital da região foi aconselhada a voltar para casa e trazer a neta, para que esta fosse examinada.
  Quando voltava, desesperada por saber que sua neta não conseguia sequer levantar-se da cama, a senhora passou em frente a uma Igreja e como tinha muita fé em Deus, apesar de nunca ter entrado numa igreja, resolveu pedir ajuda.
  Ao entrar, encontrou algumas senhoras ajoelhadas no chão em oração.
  As senhoras receberam a visitante e, após se inteirarem da história, convidaram-na para ajoelhar e orar pela criança.
  Após quase uma hora de fervorosas orações e pedidos de intercessão ao Pai, as senhoras já se levantavam quando a mulher lhe disse:
  - Eu também gostaria de fazer uma oração.
  Vendo que se tratava de uma mulher de pouca cultura, as senhoras retrucaram:
  - Não é necessário. Com nossas orações, com certeza sua neta irá melhorar.
  Ainda assim a senhora insistiu em orar e começou:
  - Deus, sou eu, olha, a minha neta está muito doente. Deus, assim eu gostaria que fosses lá curá-la. Deus, pega numa caneta que eu vou dizer onde fica.
  As senhoras estranharam, mas continuaram a ouvir.
  - Já tem a caneta Deus? Então vá seguindo o caminho daqui de volta e quando passar o rio com a ponte entra na segunda estradinha de barro. Não vai errar tá?
  Nesta altura as senhoras esforçavam-se para não desatar a rir. E ela continuou:
  - Seguindo mais uns 20 minutos tem uma vendinha, entra na rua depois da mangueira que vai vê meu barraquinho. É o último da rua. Pode ir entrando que não tem cachorro e a chave da porta está debaixo do tapetinho vermelho.
  As senhoras começaram a indignar-se com a situação.
  - Olha só Deus, por favor! Não se esqueça de colocar a chave de novo por baixo do tapetinho vermelho, senão, eu não consigo entrar quando chegar em casa.
  Nesta altura as senhoras interromperam aquela ultrajante situação dizendo que não era assim que se deveria orar, mas que ela poderia ir pra casa sossegada, pois elas eram pessoas de muita fé, e Deus, com certeza, iria ouvir as suas preces e curar a menina.
  A mulher foi para casa um pouco desconsolada, mas ao entrar na sua casinha sua neta veio correndo para recebê-la:
  - Minha neta, está de pé, como é possível?
  E a menina explicou:
  - Eu ouvi um barulho na porta e pensei que era a senhora voltando, no entanto, entrou um homem muito alto com um vestido branco no meu quarto e me mandou levantar, não sei como, eu simplesmente me levantei.
  E quase em pranto a menina continuou:
  - Depois ele sorriu, beijou minha testa e disse que tinha que ir embora. Mas pediu que eu avisasse a senhora que ele ia deixar a chave debaixo do tapetinho vermelho.

Joaquim Moraques